- Hoje se cumpre meta fundamental do meu governo. Penetrei a realidade catarinense como poucos o fizeram e concluí que o banco é uma imposição do progresso estadual. Ele não nasce ao improviso. Aqui terão vez muitos dos que nunca tiveram o benefício do crédito. É seguro o bom resultado.
O governador Celso Ramos terminou de falar sob aplausos, naquela tarde de 15 de janeiro de 1962, em que acabava de ser eleita a primeira diretoria do Banco do Estado de Santa Catarina.Criado pela lei 2.719 de 27 de maio de 1961, com o nome de Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (BDE), o Besc nascia como o eixo em torno do qual o governador pretendia executar seu programa de mandato. Faltavam poucos meses para que Ramos, gravasse para a história outro discurso memorável: - Há pobreza nos lares. Há sofrimento. Há os que produzem sem incorporar nada ao seu patrimônio, fazendo maior o patrimônio alheio. Há ímpetos de buscar soluções extremas pelo desespero de encontrar as que seriam humanas e devidas.
Posse da nova diretoria eleita em 1959
Era 21 de julho de 1962, mas o governador não falava para uma platéia de eleitores, tão pouco pregava a alternativa socialista que Cuba seguira três anos antes. Naquela data, pelo contrário, Ramos inaugurava um empreendimento tipicamente capitalista: a primeira agência do BDE. Com um capital de Cr$ 300 milhões (cerca de US$ 1,5 milhão da época), 1.924 acionistas e 15 funcionários, o banco começou a atender seus cliente no dia seguinte, no prédio do nº 1 da Praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis, a uma quadra da sede do Sindicato dos Bancários. Ao final de 1963, já tinha dez agências, sustentando o projeto desenvolvimentista de Celso Ramos.
Em 29 de abril de 69, o BDE, adaptando-se às novas leis em vigor, mudou de nome. Em setembro daquele ano, o Besc adquiriu o controle acionário da Companhia Catarinense de Crédito, Financiamento e Investimentos (que viria a se chamar Besc Financeira - Crédito, Financiamento e Investimentos, ou Bescredi). Em 18 de junho de 73, o Besc inaugurou sua subsidiária Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (Bescval) e em 20 de dezembro de 74, a Corretora de Títulos, Valores e Câmbio (Bescam),ambas criadas para atuar no mercado de capitais. O conjunto das empresas do Sistema Financeiro Besc se completaria com a criação da Besc Crédito Imobiliário (Bescri) e a aquisição da Companhia Hidromineral de Piratuba.
O significado da criação do Besc para o Sindicato dos Bancários de Florianópolis se revelaria apenas com o passar do tempo. O impacto mais imediato foi financeiro e institucional. Poucos anos depois da criação do Besc, os trabalhadores daquela instituição iriam compor o maior contingente da base do Sindicato, com efeitos diretos sobre o orçamento da entidade e sobre a representatividade política na direção sindical, no início da década de 70, surgiram os primeiros dirigentes besquianos.
Além disso, a presença do Besc trouxe pelo menos duas decorrências significativas para a ação política da entidade. A primeira tem a ver com a relação direta estabelecida entre o perfil ideal de sistema financeiro concebido pelos bancários a partir do final dos anos 80 e os bancos públicos - em especial os estaduais. A defesa do papel social dos bancos tem levado o Sindicato a posicionar-se ao lado da instituição, contra os interesses voltados para a privatização do Besc - como ocorreu em 1988.
A segunda decorrência é que, apesar dessas alianças estratégicas, o Sindicato assumiu posições muito firmes em oposição às sucessivas direções do banco, caracterizadas ora pelo uso privado dos recursos da instituição, ora pelo desrespeito aos direitos da categoria (situações nem sempre excludentes).
Em 1992, o Banco do Estado de Santa Catarina completou 30 anos. Para comemorar, a diretoria mandou fazer uma revista contando a história da instituição. Nas 54 páginas impressas no melhor papel, o texto mostrava como o banco ocupou espaço no mercado, modernizou sua infra-estrutura, treinou seus 6.500 funcionários para atender melhor o cliente, enfrentou os déficits e superávits da economia. Nenhuma linha falava das diversas greves realizadas desde 1989 e apenas quinze se referiam à intervenção do Banco Central, implantada entre fevereiro de 1987 e agosto de 1988. Das 57 fotos, dez mostravam o presidente que assumira o banco em 1991, Mércio Felsky - mas isto é um detalhe irrelevante para esta história.
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