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  • Foto do escritorWilFran Canaris

Greves e arrocho

A cena nas portas das agências arrepiou os cabelos de uma população pouco acostumada com os efeitos da organização dos trabalhadores. Desde a madrugada, militantes de base haviam se deslocado até cidades próximas à Capital e trouxeram centenas de flores, cujas pétalas foram repousadas na entrada dos bancos. O piquete foi ousado e corajoso: o apelo dos grevistas atingia o bolso e a alma dos fura-greve.

Era 11 de setembro de 1986 e o MOB comandava sua segunda greve, já plenamente consciente de seu papel de liderança da categoria. O Plano Cruzado aguentava firme e a reivindicação de reajuste salarial de 26,5% esbarrava no discurso do governo e na solidariedade da população - os "fiscais do Sarney". Para se adequar à queda da inflação, os bancos tinham ceifado 70 mil postos de trabalho, com o fechamento de 500 agências.


Mais de 500 mil bancários aderiram à greve em todo o país. A paralisação foi encerrada sem acordo com a Fenaban e o governo Sarney desencadeou um processo de perseguição aos dirigentes sindicais, que duraria pouco tempo. Após as eleições estaduais que deram ampla vitória ao PMDB, o Plano Cruzado naufragou e a CUT comandou uma greve geral de protesto em 12 de dezembro, com adesão de 70% dos trabalhadores.


Em março de 87, na beira da eleição, o MOB comandou a greve dos nove dias, que teve a palavra de ordem mais famosa da história de lutas da categoria: _100% quando? _Já! Era a primeira greve nacional da categoria fora da data-base, setembro. Mais de 640 mil bancários aderiram ao movimento, mas o resultado não foi dos mais favoráveis. O pessoal do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal obteve o atendimento parcial das reivindicações, mas boa parte ela categoria ficou apenas com o desconto dos dias parados.

Primeiro Congresso do DEB (Departamento Estadual dos Bancários)


Até o final da década de 80, as greves se sucederiam com regularidade, em busca de proteção dos salários contra a inflação crescente. Quatro greves mobilizaram a categoria nacionalmente (14 a 19 de setembro de 1988, 20 a 26 de abril de 1989, junho e setembro de 1990). Além das greves nacionais, houve paralisações específicas de segmentos da categoria. Os funcionários do Banco do Brasil cruzaram os braços por três vezes em dois anos: 29 de setembro a 1º de outubro de  1987, 24 a 29 de julho e 18 a 24 de outubro de  1988. A primeira greve isolada dos trabalhadores  do Besc ocorreu em 28 de abril de 1988.


Essa sequência de paralisações decididas democraticamente pela categoria indica o sentido da transformação política vivida pelo Sindicato a partir da metade dos anos 80. Indica também a forma principal de resistência às perdas causadas pela inflação e à tentativa dos banqueiros de achatar os salários. Mas nem sempre as lutas garantiram a preservação do poder de compra da categoria.


Assembleia de filiação à CUT


Um escriturário que recebe o piso dos bancos privados - regidos pela Convenção Coletiva assinada com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) - chega ao Natal de 1995 com um dos níveis de remuneração mais baixos dos últimos dez anos. Na tabela, que traz os salários desde 1986 em valores de 1º de setembro de 95, pode se perceber que os menores vencimentos da categoria oscilaram entre um pico de R$ 1.050,89 em outubro de 89, e um vale de R$ 331,65 em agosto de 95 - três vezes menos. Com as mudanças impostas pela automação e terceirização dos serviços, a categoria é a cada dia menor e quem está começando ganha cada vez menos.



A luta pela preservação dos salários não se  limitou às fronteiras dos guichês bancários. Desde 1987, a categoria por duas vezes decidiu fortalecer greves gerais convocadas pelas centrais sindicais em oposição a medidas determinadas pelos sucessivos pacotes econômicos.


A primeira delas foi em 20 de agosto de 1987, na greve geral convocada pela CUT contra as perdas salariais promovidas pelo Plano Cruzado. Houve pequena adesão dos bancários de Florianópolis. O fato mais marcante desta greve na Capital foi que a Polícia Militar, por ordem do Coronel Guido Zimmermann, agrediu manifestantes no Largo da Catedral Metropolitana Zimmermann foi chamado de "psicopata" em editorial da Folha Sindical, por sua vez  processada pelo Coronel.


Em 14 e 15 de março de 1989, mais de 35 milhões de trabalhadores participaram de outra greve geral, sem a presença dos bancários de Florianópolis. A categoria voltaria às ruas com outros trabalhadores em 1991, na greve geral contra o Plano Collor. Houve protestos generalizados em todo o país e, em Florianópolis, a Polícia Militar voltou a espancar manifestantes, num conflito no Terminal Urbano. Vários bancários foram presos.

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