Desde a segunda metade da década de 50, com a posse de Juscelino Kubitscheck na Presidência da República e a adoção do modelo desenvolvimentista, a presença dos trabalhadores na cena política estava se ampliando. Os bancários, como outras categorias, iniciaram um processo de organização nacional, consolidado na criação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (CONTEC), em 1958. Um ano antes, a categoria conquistara o atendimento a duas reivindicações históricas: a jornada de trabalho de seis horas para todos os bancários e a aposentadoria por tempo de serviço.
1962 - Em 5 de julho é instituído o l3º Salários. Em 14 de setembro greve geral pela antecipação do plebiscito sobre o parlamentarismo.
Onsy Laus e o Vice Presidente João Goulart
A reemergência do movimento sindical era em parte patrocinada pelo vice-presidente João Goulart e seu partido, o PTB, desde que se mantivesse dentro do modelo corporativo. O operariado industrial havia crescido e a organização de classe passava a se constituir, novamente, em ameaça ao empresariado. A eleição de Jânio Quadros em 1961 pareceu ser um alento para a burguesia brasileira, logo frustrado pelas evidente fragilidade política do novo governo. A renúncia, sete meses após a posse, confirmou a incapacidade de forjar alianças sólidas, que garantissem a governabilidade.
O início da década era marcado por greves de várias categorias, em torno de reivindicações semelhantes, como reajustes salariais, fim da carestia, 13º salário e salário família. Os bancários lutavam pelo fim do trabalho aos sábados, estabilidade aos dois anos de serviço e discussão com o Sindicato sobre a introdução de computadores nas empresas. Foi em torno dessas bandeiras e do reajuste salarial de 60% que os bancários voltaram a realizar uma greve nacional, dois meses após a renúncia de Jânio.
O primeiro segmento da categoria a parar em todo o país foi o dos funcionários do Banco do Brasil, que desde o segundo governo Vargas (1951-54) exerciam a hegemonia sobre o movimento sindical em praticamente todos os estados. Os bancários de Florianópolis entraram em greve no dia 20, junto com os de São Paulo e Paraná.
- Faltar com a nossa solidariedade concreta e nossa decidida tomada de posição seria renunciar à luta, atitude que não se compadece com a consciência de classe que temos e com a certeza da justiça do que reivindicamos, afirmavam os bancários em nova do comando do movimento,divulgada em O Estado.
Carmelo Faraco
O movimento, que iniciara cinco dias antes, tinha o apoio da imprensa carioca, exigindo que"os banqueiros fumem menos charutos e dêem mais cruzeiros para os bancários", segundo relato do jornal A Gazeta. Em função da greve, o comércio de Florianópolis pela primeira vez passou a receber dinheiro diretamente da agência do BB de São Paulo.
"Piquetes foram formados pelos grevistas nesta capital frente à agência do Banco do Brasil a fim de que a mesma não seja furada e assim obter sucesso quase que imediato", informava A Gazeta. "O ponto está sendo tomado na sede do Sindicato dos Bancários".
O presidente da entidade era Carlos Passoni Júnior, funcionário do BB que, muitos anos depois, enfrentaria novas greves do outro lado da mesa, como presidente do Banco do Estado de Santa Catarina, que ainda nem tinha sido inaugurado.
- A nossa gestão viveu uma época muito difícil, com constantes greves e a cautela de não se ter a infiltração de elementos de fora da classe do Sindicato, o que era normal naquela época em outros órgãos de classe, afirmou Passoni em entrevista ao Informativo O Bancário, publicado pelo Sindicato, em fevereiro de 1981.
O Sindicato representava cerca de 300 bancários, naquele início de década. Existiam na Capital os seguintes bancos: Hércules, Inca, Nosso Banco, Banco Nacional do Comércio (Banmércio), Banco da Lavoura, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Distrito Federal. Só o BB parou em 61, conquistando um reajuste de 40% - superior à proposta anterior dos patrões - e ·à promessa de estudos para a definição de um novo salário mínimo para a categoria. A greve terminou no dia 26.
A Contec se fortaleceu com o sucesso do movimento e preparou novas manifestações em 1962. Em agosto, participou da criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), que organizou uma greve geral nos dias 15, 16 e 17 de setembro (sábado, domingo e segunda-feira). Os bancários conquistaram um aumento semestral de 60%, quinqüênio, e gratificação mínima para cargos em comissão. Ainda como saldo da paralisação, parcial e sem a adesão de Santa Catarina, no final do ano o Congresso Nacional aprovou a extinção do trabalho aos sábados.
Em 6 de dezembro, os funcionários do Banco do Brasil voltaram à greve, contra o projeto de lei de reforma bancária do deputado federal Daniel Faraco. O projeto previa a criação de um Banco Central e um Banco Rural, esvaziando o BB de parte de suas funções. A regulação do sistema financeiro ainda estava ao cargo da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), do Banco do Brasil. A greve foi encerrada com a promessa de Goulart de retirar o projeto e criar uma comissão para estudar o assunto. A reforma bancária só se consolidaria dois anos depois, em pleno governo militar.
Em meados de 1961, Passoni Jr. foi sucedido, na presidência do Sindicato, por Carlos José Gevaerd, que comandou a adesão dos bancários de Santa Catarina à greve de 1963. A assembléia da categoria de 16 de setembro decidiu aderir ao movimento a partir da zero hora do dia seguinte, "em face da intransigente posição da classe patronal, que, insensível ao gravíssimo problema salarial dos bancários, vai se recusando sistematicamente a sequer discutir as bases de um novo acordo", conforme nota publicada em A Gazeta.
Mesmo com a vitória no plebiscito que restabeleceu o presidencialismo no país, o governo João Goulart não conseguia conter o crescimento do custo de vida. Uma profusão de greves exigia reajustes salariais desde o início do ano. Os bancários paulistas haviam parado no dia 21 de janeiro, exigindo o pagamento de gratificações de balanço e 13º salário sem compensação, entre outras reivindicações. A greve de setembro, que durou 48 horas, terminou com a marcação de uma audiência entre patrões e empregados no Ministério do Trabalho. A Justiça do Trabalho acabou decretando aumento de 70% para toda a categoria e correção dos valores do qüinqüênio.
Quando Goulart livrou-se das amarras do parlamentarismo, o movimento sindical ganhou ainda mais vida. Pareceu bastante evidente aos empresários brasileiros e multinacionais que a associação entre o populismo de Jango e a participação popular constituía uma ameaça realmente nova. A ação das massas foi o fermento da conspiração que seria deflagrada em abril de 1964.
"Foi somente quando o populismo se tornou uma forma de participação que deflagrou a crise", afirma René Armand Dreifuss em seu livro 1964: A Conquista do Estado. "Tal ruptura político-ideológica continha em si a ameaça de subversão denunciada pelo conjunto das classes dominantes e suas camadas auxiliares".
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