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  • Foto do escritorWilFran Canaris

Ilson Dias o homem da CIA - O Bancário e o rei vaidoso

Para seus adversários no início da década de 70, quando começou a carreira no Sindicato, Dias havia sido preparado pela ditadura para derrotar o ex-presidente Valei Lacerda e o núcleo militante ligado ao PCB: "Foi financiado pelo Besc e treinado pela CIA, nos Estados Unidos", afirma Gerônimo Wanderley Machado.


Vaidoso, Dias dedicou boa parte das 48 edições do jornal que publicou quando diretor do Sindicato a dar elogios a si próprio. Numa delas, quis mostrar que estava mais capacitado que seus opositores a gerir a entidade e reconheceu ter feito, por noventa dias em 1973, o "Curso de Capacitação para Dirigentes Sindicais", em Washington, com autorização do Conselho Executivo do Instituto Americano para o Desenvolvimento do Sindicalismo Livre.


Posse de Ilson Dias em 1973


O American Institute for Free Labor Development (AIFLD), de fato, treinou sindicalistas brasileiros para ocuparem os espaços antes destinados à mobilização dos trabalhadores. De 1961 a 1963, no período de preparação ao golpe militar, pelo menos 136 sindicalistas foram para Washington participar dos cursos, segundo René Dreifus em 1964: A Conquista do Estado - entre eles, o ex-presidente do Sindicato, Carlos José Gevaerd.


1976 - Florianópolis completa 250 anos em 23 de março, ponte Hercílio Luz completa 50 anos em 13 de maio.


Para Dreifus, sindicalistas como Dias eram a matéria-prima preferida pelo AIFLD, "uma organização estreitamente ligada ao sindicalismo, aos empresários americanos e às agências governamentais como a AID e a CIA". "O AIFLD tornou-se o instrumento principal do governo americano para o fornecimento de assistência técnica aos sindicatos latino-americanos (educação política e treinamento de ativistas sindicais, bem como o desenvolvimento de projetos sociais), que na linguagem da época cobria-se com o rótulo de 'ação cívica"'. Para Dreifus, a tarefa principal da organização era "organizar sindicatos anticomunistas na América Latina".


Criada em 1961, a AIFLD dispunha de um orçamento milionário para propagar ideologia em todo o continente, principalmente através de programas de formação sindical. Três princípios orientavam a associação:

1. Dividir os trabalhadores para criar uma aristocracia trabalhista privilegiada e sindicalizada para defender ganhos materiais contra desempregados e não sindicalizados;

2. Opor-se à infiltração comunista e livrar-se dela, onde já existisse;

3. Negar a luta de classe em nome de um consenso entre trabalhadores e empresário amparado pela busca de maior produtividade .


Os cursos, que só até 1964 alcançaram 12 mil trabalhadores, eram realizados em três níveis: uma primeira fase regional; uma segunda fase em São Paulo; e um terceiro período em Washington, para os que mais se destacassem nas etapas anteriores. Ilson Dias, como se vê, era bom aluno.


O Vargas dos bancários

Na cabeça do mítico presidente quase-vitalício, as circunstâncias que o levaram ao Sindicato seriam, na verdade, consequência natural de sua performance profissional. Dias virou bancário com 16 anos, na Cia de Seguros Boa Vista . Sindicalizou-se em 1959. Depois, fez um concurso e entrou no Banco do Estado do Paraná, onde permaneceu de 62 a 67.


Em seguida, foi convidado para fazer um teste no Besc, onde foi admitido em 4 de dezembro de 67 . Foi logo convidado para ser diretor da Associação do Besc. Em 71, participava do Centro Catarinense de Desportos Bancários (CCDB). Lá, começou a articular a chapa que derrotaria Valei Lacerda.


Longa como o primeiro governo de Getúlio Vargas, a era Dias foi marcada por escassa mobilização política, mas por um esforço bem sucedido de manter a prática sindical na direção de uma ação ainda mais assistencial. Num movimento paradoxal, gerou a multiplicação no número de sindicalizações e concluiu o processo de pulverização da organização da categoria no estado.

 

À parte o crescimento do número de sindicalizados - que, em dez anos, triplicou - o reinado de Ilson Dias foi caracterizado pela transformação da entidade em uma agência da Previdência Social. À falta de um sistema público de saúde eficiente, o Sindicato garantia a parte de seus representados médico e dentista, a preços nada módicos: mais que 60% do orçamento anual da entidade era gasto nisso.

Praticas assistenciais dos anos 50 são turbinadas por Ilson Dias


Como afirma Armando Boito Jr., sucursais da Previdência como o Sindicato tinham a "peculiaridade de serem agências previdenciárias impositivas e universalistas na tributação, que abrangem todos os trabalhadores, e particularistas e discriminatórias na distribuição dos benefícios, reservados apenas para o contingente diminuto de sócios do sindicato". Nos anos 90, quando foi aprovado o enxugamento da estrutura assistencial, menos de 10% da categoria utilizava os serviços. Uma dezena de médicos e outra de dentistas, barbeiros e farmácia (inaugurada em dezembro de 1981) compunham o arsenal de assistência em meados da década ele 80.

 

A criação deste sistema foi uma elas primeiras medidas ele Ilson Dias à frente elo Sindicato. Em 4 ele julho ele 72, Dias declarava instalado o assistencialismo, com a compra ele novos equipamentos para odontologia e barbearia e a reformulação elos estatutos de acordo com o que exigia o Ministério do Trabalho. O sindicato precisou aumentar sua estrutura. No início elos anos 70, a entidade estava localizada nos anelares elo Edifício Tiradentes, onde permaneceria até julho de 1992.

 

Apoiada por facilidades concedidas pelo governo militar no acesso a fontes ele financiamento, as gestões ele Ilson Dias conseguiram realizar investimentos diversos. Em 29 ele dezembro de 78, Dias fez duas inaugurações: ela subsede do Sindicato no Estreito, na rua Souza Dutra, 36 e de uma Kombi, 70% comprada com apoio do Ministério do Trabalho.

Um ano depois, um convênio entre Sindicato, Ministério e Caixa Econômica Federal permitiu a aquisição elas salas 61 e 64 do Ed. Tiradentes, a ampliação dos serviços assistenciais, a concessão de bolsas de estudos e a compra elo terreno ele 97 mil metros quadrados em Vargem Pequena, onde fica até hoje a sede campestre da entidade. Mais de Cr$ 40 milhões foram drenados pela CEF/MTb para o Sindicato.


Para fortalecer a integração da categoria e amparar a falta de ação política, o Sindicato promovia eventos sociais e esportivos com alguma freqüência. Um deles era o concurso "A Mais Bela Bancária". Em 1979, a promoção teve o apoio dos clubes Seis de Janeiro e Cinco de Novembro. As três primeiras colocadas - Silvana Pereira (Besc, Ag. Central), Diana Maria Guerber (Bamerindus) e Helena Maria Simão (Bamerindus, Ag. Estreito) - ganharam prêmios em dinheiro, troféus e ingressos para um show de Roberto Carlos. A atração musical do concurso foi o show de Moacir Franco.



"Nossos planos eram a liberdade sindical, a autonomia, pelo amplo e irrestrito direito de greve, negociação direta entre empregados e empregadores, revogação da política de arrocho salarial, participação no lucro da empresa. Tudo era discutido nas assembleias e nós levávamos para os banqueiros. O nosso sindicato, na época de 72 a 84, era um modelo para o sindicalismo catarinense. Com diálogo, com organização, com criatividade, abrimos o caminho para a liberdade sindical", afirmou Dias em entrevista especialmente concedida para esta revista.



O Bancário e o rei vaidoso

Ilson Dias criou um jornal, O Bancário, para comunicar-se de vez em quando com a categoria. De 72 a 87, foram 48 edições - uma média inferior a quatro por ano. Daí a conclusão de· que dar informações e prestar contas eram prática mais irregular que a ocorrência das estações do ano. O Bancário circulava quando era interessante para Dias. Do início de 1982 a 1983, o jornal teve poucas edições - exatamente o período em que o ex-presidente concorreu a vereador da Capital, pelo PDS, para receber 940 votos. Naquela eleição, Florianópolis tinha 102.419 eleitores e o campeão de votos foi Sérgio Grando (PMDB), com 3.715.


De qualquer modo, os jornais constituem fonte razoável de informação para as realizações e

práticas da era Dias. A democracia não era a principal característica das gestões do imperador do Sindicato. Muito menos, de seus jornais. O Bancário de fevereiro/março de 1975 anunciava a data da eleição da nova diretoria e fazia campanha aberta para a chapa única. O programa de mandato previa a construção de uma nova sede "para sanar todos os problemas de atendimento do sindicato, durante um período mínimo de 50 anos".


O jornal de março e abril de 78 era outro misto de informação e campanha aberta. A notícia divulgava a nova eleição, conforme edital publicado em A Gazeta de 23 de dezembro - exatos dois dias antes do Natal de 1977. Votar na chapa única era obrigação. "O não exercício do direito de votar acarretará multa aos faltosos, conforme determinação do Ministério do Trabalho", avisava o jornal.


"O bom líder mostra com orgulho as suas conquistas e obras , enquanto o mau divulga inverdades e tumultua a classe", afirmava Ilson Dias, num quadro com algum destaque, que se repetiria sucessivamente até a última edição de O Bancário. Outros quadros ao lado, exibiam frases de gente tão diferente quanto o então presidente Ernesto Geisel, o ex-presidente americano John Fitzgerald Kennedy, o líder indiano Mahatma Gandhi, o escritor Antoine de Saint-Exupery e o humorista Barão de Itararé.


Prescindindo do apoio aberto da categoria, Dias preferia evidenciar seus laços com outros atores sociais, bem diferentes dos bancários. O informativo de setembro de 78 proclamava, com solenidade: "Contando com o apoio do governo esta dual e federal, onde possui muito prestígio e relacionamento, o presidente Ilson Ulmer Dias pretende também conseguir recursos para a construção de uma praça de esportes para os bancários". Ao lado do texto ufanista, a foto de Dias acompanhado do futuro presidente-general João Baptista Figueiredo e do governador nomeado Jorge Konder Bornhausen. A aliança entre a direção do sindicato e os governos (qualquer governo) era muito evidente.

 

Unibanco, campeã do futebol em 83


Os torneios esportivos promovidos juntamente com o Centro Catarinense de Desportos dos Bancários em 1980 faziam questão de prestar homenagens às autoridades. O Campeonato de Futebol de Salão tinha o nome de "Dr. Jorge Konder Bornhausen" (o governador); o de Futebol de Campo chamava-se "Dr. Fernando Caldeira Bastos (Secretário estadual do Trabalho e Promoção Social); e o de Vôlei Feminino era "Prefeito Francisco de Assis Cordeiro". Esporte e política andavam juntos em vários sentidos.

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