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Enfrentando as exigências das lutas - Tempo de crescer

Atualizado: 6 de nov.

A primeira greve nacional da qual participaram os bancários do estado marcou a transição para um novo patamar da ação política do Sindicato dos Bancários de Santa Catarina. Concentrados diante da agência do Banco do Brasil (no prédio de domínio público, ao lado da Câmara dos Vereadores, na Praça XV), os grevistas de Florianópolis se esforçavam para transformar a entidade de associação recreativa em instituição de luta e reivindicação. Fazer sindicalismo na cada de 40 em Santa Catarina não era brincadeira.


A imprensa vê as greves: Em 46, O Estado dá destaque às lutas contra a carestia e A Gazeta faz uma previsão - em 96, os homens viajariam à Lua em 90 horas de voo


Para ir de Florianópolis a Chapecó numa reunião com os bancários, eram consumidos três dias de ônibus - quando tinha ônibus. Rádios e jornais não falavam em sindicato. Comunicação à distância, por rádio-amador - o telefone se popularizaria apenas muitos anos mais tarde. No interior, a diretoria tinha representações regionais para dar conta do recado.


Em meados da década de 40, havia no estado menos de dois mil bancários, dos quais mais ou menos 10% viviam em Florianópolis. Havia meia dúzia de instituições financeiras : Banco do Brasil, Banco Inca (um banco catarinense, com sede em ltajaí e 34 agências em dezembro de 45, depois incorporado ao Bradesco), Caixa Econômica Federal, Banco do Distrito Federal (na rua Trajano, 23), Banco Nacional do Comércio (depois Sulbrasileiro e, mais tarde, Meridional), Banco de Crédito Popular e Agrícola de Santa Catarina (com sede própria na rua Trajano, 16, e uma agência em Chapecó). Depois, foi inaugurado o Banco da Lavoura (hoje, Banco Real). As instituições operavam com depósitos a vista e a prazo, ou empréstimos a juros que variavam de 2% a 9% - ao ano.



- Naquela época, a classe dos bancários não tinha determinação. Não era uma classe organizada. Gente boa, com conhecimento da causa sindical. Havia um prédio, uma sala alugada, e lá se reuniam os bancários, jogavam dominó... Não havia uma atividade em defesa dos direitos da classe. Mas isso foi sendo estruturado. Aos poucos, começaram a surgir as reivindicações salariais.


Entre 61 e 63: Noticiário anticomunista reforçava o movimento que levaria ao Golpe de 64. "Inflação desenfreada" foi de 86,7% só no ano de 63 e 10,7% em janeiro



O relato é do ex-presidente do sindicato, Carmelo Mário Faraco, vereador da capital de 1955 a 59. Faraco esteve à frente do Sindicato por dois mandatos e, embora não restem registros oficiais, é provável que tenha sido entre 1951 e 1954. Antes de Faraco, o Sindicato fora presidido por Jayme Pigozzi. Os mandatos eram bienais. Abel Capella bancário e dentista, que hoje é nome de rua em Coqueiros,"levou" Faraco para o sindicato. O esforço foi para manter a entidade como um órgão de defesa da categoria. De uma das greves dos funcionários do Banco do Brasil de que participou, Faraco afirma:- Uma greve era difícil. Não era como hoje, em que se decreta a greve e todo mundo adere. Mas nós conseguimos com muita negociação e conversa - usava-se muito isso, porque força nós não tínhamos mesmo - que a greve chegasse a bom termo e foi feito o reajuste.


Carmelo Faraco (Presidente da gestão de 1951-54)


A assembleia que decretou esta greve teve a presença de nove bancários. Cinco votaram a favor da paralisação; quatro, contra. E a greve continuou. Foi um "batismo de fogo" para Faraco, funcionário do Banco do Brasil e bancário por 32 anos. Aposentou-se em 1975 e começou a trabalhar em 42 no BNC, onde permaneceu menos de dois anos. Nos anos que se seguiram, o objetivo foi o de transformar a sede do Sindicato num ponto de contato permanente para a categoria. A entidade queria espaço para participar nos fóruns nacionais da categoria, controlados pelos sindicalistas dos centros principais.


- No tempo do Jânio Quadros, apareceu uma informação, na véspera do pleito, de que se Jânio fosse eleito ele iria cortar a gratificação dos funcionários do Banco do Brasil. Isso provocou uma celeuma. Naquele tempo, eu estava fora do sindicato, em plena campanha eleitoral. Fomos a Itajaí com mais dois colegas - Dilermando Brito e Alfredo Trajano - e falamos com Jânio Quadros. E ele disse: Isto é coisa do Lossaco. Salvador Lossaco era um líder sindical esquerdista, de cruz na testa. Naquele tempo, os grandes sindicatos do Rio de Janeiro e São Paulo já estavam sofrendo a influência da ideologia.


Foi então que surgiu a ideia de criar o gabinete dentário, com a colaboração decisiva de Capela, cirurgião-dentista. Os recursos eram do Ministério do Trabalho, preocupado com a transformação dos sindicatos em sucursais do INPS. "O trabalho de dentista não tem nada a ver com o sindicato, mas era uma forma de dar alguma coisa para que a classe se sentisse organizada, unida", avalia Faraco.


Ele e seus companheiros investiram também na transparência. Os livros de contas da entidade permaneciam expostos na sede da entidade para o exame de qualquer um dos sócios. Um funcionário foi contratado para atender à categoria. O sindicato editava um boletim, a Tribuna Bancária, a partir das informações recebidas pelo correio dos sindicatos do centro do país.


Tempo de crescer

Em 1959, a diretoria do Sindicato, encabeçada por Osny Laus (Presidente) e João José Ramos Schaeffer (Secretário), apresentara sua proposta de novo estatuto para a entidade, que foi aprovada. O novo estatuto firmou o suporte legal para uma ação política mais ampla, que já se vinha constituindo desde o início da década. De 51 a 55, os bancários participaram da Comissão do Salário Mínimo, conforme estabelecia a lei, através de seu ex-presidente João Cândido Rodrigues. A partir de 1960, os membros da Comissão do Salário Mínimo passaram a ser Job Valentim, Osny Laus e Waldir Carreirão, com os suplentes Sílvio Rigueira Peluso, Walmor Pires e Armando Silveira de Souza.


Osny Laus e o Vice Presidente João Goulart (Arquivo da Sintrafi)


A ambição de ampliar a ação política vinha amadurecendo desde alguns anos, mas convivia com as iniciativas tradicionalmente assistencialistas e prosaicas promoções de caráter cultural. A Tribuna Bancária número 7, de janeiro de 1960, divulgava a festa de posse da nova diretoria e a criação, no dia 11, da Associação Inter-Sindical, promovida pelo Sindicato. Onze sindicalistas, representando as categorias de comerciários, trabalhadores nas -empresas de minério e  combustíveis minerais, operários da construção civil, dentistas, barbeiros e trabalhadores em hotéis e similares, haviam participado do evento. A Tribuna conclamava os sindicatos a "realizar com dedicação sua tarefa, defendendo com denodo todas as reivindicações da Classe Trabalhadora, sem interesses pessoais ou demagógicos".


Jantar de posse da nova diretoria eleita em 1959 (Arquivo Sintrafi)


O perfil de atuação ampliava-se também dentro das fileiras do Sindicato. A nova diretoria definiu coletivos para atuar em uma série de departamentos com tarefas específicas - feminino, jurídico, da previdência social, de planificação, estatística e assuntos econômicos, cultural e social. A diretoria manifestava apoio às greves de outras categorias, como os mineiros de Criciúma, e participava dos eventos nacionais como a I Convenção Nacional dos Bancários, entre 24 e 30 de março, no Rio de Janeiro.


Paralelamente à política, o sindicato patrocinava iniciativas de integração. Em 15 de março, a reunião da diretoria aprovou "a realização de um pic-nic à praia do Ribeirão da Ilha no dia 20 do corrente", a exemplo do realizado em 21 de fevereiro e da excursão à Praia do Forte, feita também em fevereiro.


1952 - Produzida a primeira pílula anticoncepcional

1955 - Começa a ser fabricado o primeiro automóvel nacional 

Romi-Isetta


A partir da segunda metade dos anos 50, portanto, a ação sindical estava ficando muito maior que a sala na rua dos Ilhéus, 21. Em 26 de maio de 55, a DRT enviou aos bancos uma autorização de liberação do dinheiro do sindicato para a compra de um prédio na esquina da Arcipreste Paiva com a Vidal Ramos. A diretoria da época era formada por Abel Capella (presidente), Sílvio Peluso (secretário) e Luiz Medeiros (Tesoureiro). Mas não seria desta vez que o negócio daria certo: o vendedor do imóvel não cumpriu os prazos de entrega e teve de devolver o dinheiro à entidade.

Miramar: Prédio da Caixa Econômica Federal em primeiro plano, na década de 60. No alto, a Tribuna Bancária


Em 23 de fevereiro de 57, os bancários se reuniram em assembleia geral (às quinze horas)para decidir pela compra do prédio de Luiz Eduardo de Oliveira Santos, à rua Tiradentes, 20. Os 57 bancários presentes aprovaram por unanimidade a proposta. Faziam parte da diretoria Oldemar Veiga Magalhães (Presidente), Cláudio Olinger Vieira (Secretário Geral) e Waldir Carreirão (Tesoureiro). Em abril, o Ministério do Trabalho autorizou o sindicato a adquirir a sede própria. A partir de 1962, o sobrado passaria a ser a sede da Federação dos Bancários de Santa Catarina, criada em agosto de 1960 por iniciativa do Sindicato de Santa Catarina e outros cinco do interior - Blumenau, Laguna, Oeste Catarinense, Tubarão e Itajaí.


A Federação consolidou um novo padrão de atuação política, aproveitando as brechas abertas pelos governos populistas do início daquela década. O primeiro presidente da organização, entre 1963 e 1965, foi Carlos José Gevaerd, também presidente do Sindicato com sede na Capital. Os problemas não eram só de espaço - em se tratando de infraestrutura ou de política. A inflação começava a galopar e em 27 de fevereiro de 58 a assembleia geral decidiu aprovar um aumento da mensalidade para Cr$ 20,00. O sindicato era pequeno. Apenas 111 associados estavam aptos a votar.


- A receita era reduzida. Instalamos o gabinete odontológico e o salão de barbearia na sede que funcionava na rua Anita Garibaldi, ao lado do Cine São José, lembra o ex-presidente do Sindicato e da Federação, Carlos  Passoni Jr.


Em meados de '1960, o déficit orçamentário mensal era de Cr$ 13 mil, decorrente do aumento dos gastos e da diminuição da base sindical. O aumento das mensalidades foi de 150% - de Cr$ 20,00 para Cr$ 50,00. Em quatro de julho de 63 um documento enviado ao DNT pedia confirmação de mudança de mensalidade para 1% do salário e 1,5% para os bancários de Florianópolis e Joinville, beneficiados por assistência odontológica.

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