Passeata contra a privatização do Besc, em 1988
A habilidade política dos dirigentes do MOB foi posta à prova desde antes da posse. Em fevereiro de 1987, o presidente José Sarney decretava a intervenção no Banco do Estado de Santa Catarina, negociada com o governador eleito Pedro Ivo Campos (PMDB). O mercado ocupado pelo Besc estava na mira dos bancos privados e o banco, como outras instituições do gênero, minado por irregularidades praticadas durante as gestões de Jorge Bornhausen e Esperidião Amin. A intervenção aparecia publicamente como uma tentativa de salvar a empresa e, nos bastidores, constituía-se numa articulação voltada à privatização do banco.
A defesa do Besc, desde que desempenhando o papel social de fomentar o desenvolvimento econômico em todo o estado, tornou-se prioridade do MOB e da categoria. Desde que o banco fora criado, em 1962, os trabalhadores do Besc formavam o segmento mais numeroso da base do Sindicato e sua mobilização era decisiva para o sucesso das lutas da categoria. A nova direção dialogava com trabalhadores que, em sua maioria, haviam obtido o emprego por intermédio da indicação ele um político ou de um candidato a vereador ou deputado, notadamente em 1985, penúltimo ano da gestão Amin. Com o tempo e as lutas, a reverência a quem indicou foi sendo substituída por uma consciência de classe que deixou para trás o perfil de funcionário público dominante entre os bancários do Besc.
Folheto denunciado privatização do banco
Esta mudança de perfil não ocorreria sem o envolvimento decisivo da direção sindical, notadamente na oposição à proposta de privatização do banco. Levantada a intervenção,em agosto de 1988 o Besc voltou à administração do governo estadual, desta vez compartilhada com técnicos do Banco Central. Em 28 de dezembro, o governador Pedro Ivo anunciou um presente de Ano Novo para os catarinenses: o projeto de privatização do Besc através de um modelo de gestão tripartite - um terço para o governo, um terço para os funcionários através de seu fundo de pensão (Fusesc) e um terço para a iniciativa privada.
O Sindicato dos Bancários de Florianópolis foi a primeira voz contrária à privatização e desencadeou, desde o início do ano seguinte, um intenso processo de articulação de diversas forças sociais na defesa do banco estadual. Foram envolvidos deputados federais, prefeitos e vereadores de grande parte das cidades do estado, empresários ligados à Federação das Micro e Pequenas Empresas (Fampesc) e outros atores. Mais de 50 entidades representativas de setores da sociedade estiveram presentes na criação do Comitê em Defesa do Sistema Financeiro Estadual, no dia 6 de janeiro. Isso garantiu a multiplicação de comitês em praticamente todas as regiões catarinenses. Os deputados estaduais, que tomaram posse na Constituinte Estadual em 16 de fevereiro, também foram mobilizados. Este imenso laço pressionando o governo estadual fez Pedro Ivo recuar.
1988 - Em 10 de fevereiro a Polícia Federal invade a sede do Sindicato para apreender cartazes que denunciavam deputados federais que na constituição haviam votado -contra os trabalhadores
A ampla capacidade de arregimentar apoios galvanizou, em torno da nova diretoria, uma aura de respeito e competência. Em setembro de 1989, a diretoria do Besc foi convencida a, pela primeira vez, negociar em separado com uma comissão dos empregados cláusulas para um acordo coletivo adequado à realidade do banco. Estava aberta a porteira por onde passaria boa parte das conquistas salariais e de condições de emprego obtidas pela categoria nos anos seguintes.
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