Assim que tomou posse, o MOB fez um diagnóstico da situação dos consultórios médico edentário e da barbearia, para subsidiar as decisões que a categoria teria de tomar sobre a estrutura assistencialista. O levantamento, publicado nas edições da Folha Sindical, indicava o abandono dos equipamentos e as irregularidades na contratação do pessoal. Em setembro de 1987, só para fazer as reformas urgentes no consultório odontológico seria preciso investir Cz$ 170 mil - metade da mensalidade arrecadada pelo Sindicato.
Em assembléia geral no dia 16 de julho, os bancários aprovaram a proposta da diretoria de estabelecer uma taxa para quem utilizasse os serviços do Sindicato. A cobrança era uma resposta às constatações de que uma parcela muito pequena da categoria efetivamente usava os serviços e que, ainda assim, a estrutura era cara demais para o orçamento da entidade. Meses depois, a diretoria apresentaria aos bancários um relatório preciso sobre o tema, com as seguintes conclusões:
a. 50% dos atendimentos eram irregulares;
b. os equipamentos não recebiam manutenção e estavam defasados;
c. o material era utilizado sem qualquer controle e, portanto, havia desperdício;
d. a farmácia era utilizada apenas por 5% da categoria; parte dos medicamentos estavam vencidos; e acordos com diversas associações de pessoal geravam prejuízos para o sindicato;
e. havia irregularidades nos contrato de trabalho com dentistas e médicos;
f. as novas taxas não chegavam a cobrir 25% dos gastos com médicos-dentistas-barbeiros.
A farmácia foi a primeira estrutura assistencialista a ser fechada, em julho de 1987.
Três anos depois, a última cadeira de barbeiro foi colocada a venda. Encerrada esta espécie de benefício, o Sindicato passou a servir à categoria de outra forma: estruturou uma secretaria capacitada para fiscalizar condições de saúde e segurança no trabalho, combatendo a elevada incidência de Lesões por Esforços Repetitivos (LER) na categoria.
Nova sede para novo modelo de sindicalismo
Sem barbeiro, dentista ou médico, o Sindicato tinha que se preparar para aquilo que de fato deveria fazer: defender os direitos e reivindicações dos trabalhadores. O próximo passo das gestões Compromisso de Luta (1990-1993) e Movimento, Cidadania & Luta (1993-96) foi construir uma máquina de ação sindical, superando os limites de equipamento, espaço físico e visibilidade pública que constrangiam a entidade.
Quem nunca acompanhou os bastidores de uma greve não pode imaginar as exigências estruturais que ela traz. A cada decisão de assembléia geral, segue-se um esforço para atender às necessidades de organização do movimento. É preciso instalar uma central de atendimento à categoria, outra para o recebimento de informações dos outros estados e do interior de Santa Catarina, montar plantões para cobertura jornalística, edição, impressão e distribuição ágil de boletins isto tudo, sem falar no esforço de preparação política de cada negociação, de cada nova assembléia, de cada passo estratégico na paralisação.
O Sindicato estava instalado desde fins dos anos 60 em salas esparsas no edifício Tiradentes: no primeiro, quarto, sexto, sétimo e nono andares. Embora Ilson Dias tivesse sonhado que aquelas eram instalações para "50 anos", o novo padrão de ação da entidade exigia condições mais funcionais de existência. Foi em resposta a esta necessidade que o Sindicato se mudaria, em julho de 1993, para o prédio no número 308 da rua Visconde de Ouro Preto. A nova sede sintetizaria, ao mesmo tempo, um novo padrão de ação política e uma reconciliação com a história do Sindicato.
A partir da reformulação estrutural impulsionada pelo MOB, o Sindicato passou a ter atuação diferenciada em cada setor. A secretaria de formação sindical organizou-se para preparar novos militantes e dirigentes - por meio de cursos sobre a história do movimento sindical, negociação coletiva, organização por local de trabalho ou saúde no trabalho. Outra estrutura criada pelo MOB, a secretaria de assuntos sócio-econômicos, atua na elaboração de subsídios e informações técnicas para as negociações e definição de pautas de reivindicação.
As secretarias que já existiam no modelo antigo tiveram novas tarefas. A secretaria de assuntos jurídicos concentrou sua ação na defesa dos interesses coletivos, através de ações trabalhistas que reivindicaram, por exemplo, a reposição da inflação sonegada pelos planos econômicos. Mais recentemente, identifica-se um esforço no sentido de fornecer, também, amparo aos bancários em assuntos que digam respeito ao exercício de seus direitos sociais, civis e políticos. Já a secretaria de cultura manteve a prática de promover shows, peças de teatro, torneios de futebol e bailes. Mas ampliou a ação, a partir da ideia de que a cultura não deve estar contida em espaços para ela segregados - como os teatros, cinemas, museus e casas de arte. As agências bancárias e as praças passaram a ser palco para esquetes de teatro ou apresentações musicais, numa simbiose entre ação política, mobilização dos trabalhadores e expressão artística.
A novas diretorias incorporaram como central em seus mandatos o conceito que a própria CUT definiria como bandeira principal do sindicalismo combativo - a luta pela cidadania. Em termos práticos, esta bandeira trouxe duas decorrências imediatas. A primeira é a busca de alianças com outras organizações sociais, sindicais e populares, em torno de reivindicações comuns de respeito aos direitos básicos dos brasileiros. A segunda é o envolvimento direto em uma série de espaços de formulação de políticas públicas ou gestação de iniciativas populares à parte do Estado para combater a miséria da população.
A participação do Sindicato no apoio às manifestações que levaram ao impeachment do ex presidente Fernando Collor, em 1992, e à Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, a partir de 1993, são exemplos concretos dessa busca de romper fronteiras. Outros são a presença de representantes da categoria nos conselhos municipais de Transporte e Saúde e em organizações intersindicais criadas para objetivos específicos, como a defesa do patrimônio público contra as privatizações, a defesa do meio ambiente ou a prevenção à Aids.
Este novo perfil de atuação tem amplificado a repercussão das iniciativas do Sindicato dos Bancários. Hoje, a ação política da entidade tem impacto - maior ou menor - sobre a vida da cidade.
Boa parte disso se deve à nova estrutura criada a partir do fim do assistencialismo e outra parte à disposição política dos dirigentes. O Edifício João Cândido Rodrigues, a duas quadras da primeira sede da história do Sindicato, é ao mesmo tempo o símbolo de um rompimento com essa história e um tributo às gerações que passaram.
Comments